27 de maio de 2008

Inexecício do Jornalismo

Pode até soar bizarro, mas as pessoas não sabem, ou simplesmente não ligam, para a verdadeira função comunicativa de um jornal. Em Muriaé, o senso popular diz que notícias são as paparicações pagas por influentes, vereadores, representantes comerciais e demais celebridades da nossa pequena comunidade.

Sem citar nomes, outro dia chegou um ser na redação dizendo que queria comprar um espaço. Até aí, tudo bem. Só que a maneira com que se dirigiu - Eu quero que você faça uma matéria minha agradecendo ao governador pela verba doada - (Ops! Hehe! Para preservar integridades, deduzam o doada para quê) e respondi que poderia 'fazer a tal publicidade' ou a 'mensagem', mas não uma matéria.

O sujeito, seguido de meus editores, foi tomado por um gaguejo ao dizer 'mas não pode fazer uma matéria enxuta com dizeres de jornalismo?'. NÃO! Cxrxlhx! Já não me bastasse o infinito número de matérias pagas que quase completam o jornal todas as semanas, agora tento esgueirar matérias e detalhes importantes que muitas vezes são cortados por interesses alheios.

Um bom exemplo disso foi o acidente entre um ônibus da Coletivos Muriaeenses e um motociclista. A culpa, de fato, foi do motociclista, mas a perícia percebeu que o Coletivos Muriaeenses não possuía tacógrafo - aquele instrumento que registra e arquiva a velocidade do veículo por um determinado espaço de tempo. "Não vamos publicar isso não por que o João Fiscal liga depois enchendo o saco".

Entre a gama de exemplos que acumulei antes do blog, também posso citar a inauração dos dois Postos de Saúde da Família, na qual a auxiliar de enfermagem comentou o fato de estarem novos e reformados, mas a falta de especialistas e atendimento, agravantes de uma situação delicada, foram sumariamente censurados, pois a pauta era paga pela prefeitura.

Muito me surpreende que, embora existam protestos, a população aceite, ao não enviar emails com reclamações, uma imprensa tão descaradamente de paparicação. E muitos críticos, ainda por cima, sabem do erro, resmungam e são pessoas de certo 'grau de cultura', mas insistem em recorrer ao meio comunicativo para soltar felicitações e dizer apenas boas palavras.

Sem querer bater muito no dia da visita de Aécio Neves, mas, antes mesmo do atraso fenomenal, a mãe da jovem, morta por dengue hemorrágica, tentava desesperadamente falar com a imprensa. Ela se dirigiu também ao secretário de Saúde Marcos Guarino, que a acariciou e tentou acalmá-la, sorrindo, mas a senhora revidou com um chega-pra-lá e gritava - Minha filha morreu de dengue e ninguém fala nada! - Alguém deu ouvidos? Não. Fiquei extremamente incomodo e tudo mais, mas como sabia que meu jornal não publicaria nada a respeito, não valeria nem metade do esforço.

Outra coisa: a linha fatalista criada na cidade. Parece que acidentes e assassinatos vendem jornais. Recentemente aconteceu um seminário definir a legislação de atividades minerárias em Minas Gerais. Some isso com o rompimento da barragem e vazamento de substâncias que contaminaram nosso lindo rio Muriaé e, ainda assim, poucas pessoas se interessaram. Fato parecido com a Reunião Regional dos Conselhos de Assistência Social cuja própria secretária de Desenvolvimento Social Eveline, criticou o desinteresse. Tudo escondido em páginas internas e só foram publicados por que sobrou espaço deixado pelas matérias pagas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Genial!
Continue...
Abraço pra você.