27 de maio de 2008

Foi mais fácil ver Bono do que Aécio Neves

Ainda sobre o 'excelentíssimo'...

Qualquer um que tenha presenciado as duas ocasiões sabe que o título não me deixa mentir. No show do U2, em 2006, a organização foi abismal: a caótica compra de ingressos foi marcada por falsas grávidas furando filas e queda de comunicação do site e dos poucos locais de venda. Lembro bem que o meu ingresso, que supostamente chegaria por SEDEX, demorou quase duas semanas – sorte minha ter pedido para o carteiro olhar, displicentemente, sua bolsa para que lá encontrasse a correspondência expressa esquecida. Em 2008, Muriaé, os convites laranjas com erros grotescos de Língua Portuguesa que anunciavam a vinda do governador à cidade chegaram na véspera da visita. O credenciamento da imprensa também foi feito na correria e porcamente – talvez o governador merecesse um pouco mais de segurança, pois qualquer um com uma impressora colorida falsificaria as credenciais sem nem mesmo retratos.

De volta ao show, quando abriram os portões, a Polícia Militar guiava os fãs enlouquecidos através das portas e corredores do gigantesco Morumbi. “Quem for pista vai pela esquerda, arquibancada rampa acima”, me lembro bem deles gritando. Isso que éramos 70 mil pessoas. Na visita do governador, com a chegada da comitiva de autoridades, os poucos policiais militares descansavam à sombra das árvores do camelódromo. A ‘multidão’, boa parte composta por crianças roboticamente ensaiadas para gritar “Aécio, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!”, nem deu trabalho e pouco se expressava. Quando os discursos oficiais começaram, a imprensa se espremeu no cercadinho verde e o restante das pessoas se ‘amuvucaram’ na minúscula frente da rodoviária.

Talvez a experiência de São Paulo em mega-eventos tenha pesado para desviar o transito dias antes do concerto. Em Muriaé, o que já era conturbado demais para a pequena cidade se transformou num caos das 11h da manhã até as 13h. Tanta verba, tanto respeito, mas um chá de cadeira inesquecível sob o sol de uma quarta-feira brilhante. Depois houve o corre-corre no melhor estilo Corrida Maluca, ao som da bandinha montada para o evento, onde qualquer viciado se sentiria em um jogo de vídeo-game ou nas extintas Olimpíadas do Faustão: primeiro, partida após discurso, o próximo objetivo é desfazer o laço na porta, depois a placa, e finalmente correr para a escolta e visitar o hospital de seu aliado político.

Isso tudo por que o evento principal era a inauguração do novo Centro Administrativo. De organizado mesmo, foi a manifestação contra o corte de árvores – os manifestantes se enfileiraram, alternaram, foram pacíficos e se fizeram ver do início ao fim.

No final das contas, foi mais fácil chegar perto do Bono, entre 70 mil pessoas, do que o governador Aécio Neves, entre algumas tantas, na frente de nossa rodoviária.

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