
30 de maio de 2008
Obediência no Trânsito
Recolher a bagunça dá trabalho
27 de maio de 2008
Inexecício do Jornalismo
Pode até soar bizarro, mas as pessoas não sabem, ou simplesmente não ligam, para a verdadeira função comunicativa de um jornal. Em Muriaé, o senso popular diz que notícias são as paparicações pagas por influentes, vereadores, representantes comerciais e demais celebridades da nossa pequena comunidade.
Sem citar nomes, outro dia chegou um ser na redação dizendo que queria comprar um espaço. Até aí, tudo bem. Só que a maneira com que se dirigiu - Eu quero que você faça uma matéria minha agradecendo ao governador pela verba doada - (Ops! Hehe! Para preservar integridades, deduzam o doada para quê) e respondi que poderia 'fazer a tal publicidade' ou a 'mensagem', mas não uma matéria.
O sujeito, seguido de meus editores, foi tomado por um gaguejo ao dizer 'mas não pode fazer uma matéria enxuta com dizeres de jornalismo?'. NÃO! Cxrxlhx! Já não me bastasse o infinito número de matérias pagas que quase completam o jornal todas as semanas, agora tento esgueirar matérias e detalhes importantes que muitas vezes são cortados por interesses alheios.
Um bom exemplo disso foi o acidente entre um ônibus da Coletivos Muriaeenses e um motociclista. A culpa, de fato, foi do motociclista, mas a perícia percebeu que o Coletivos Muriaeenses não possuía tacógrafo - aquele instrumento que registra e arquiva a velocidade do veículo por um determinado espaço de tempo. "Não vamos publicar isso não por que o João Fiscal liga depois enchendo o saco".
Entre a gama de exemplos que acumulei antes do blog, também posso citar a inauração dos dois Postos de Saúde da Família, na qual a auxiliar de enfermagem comentou o fato de estarem novos e reformados, mas a falta de especialistas e atendimento, agravantes de uma situação delicada, foram sumariamente censurados, pois a pauta era paga pela prefeitura.
Muito me surpreende que, embora existam protestos, a população aceite, ao não enviar emails com reclamações, uma imprensa tão descaradamente de paparicação. E muitos críticos, ainda por cima, sabem do erro, resmungam e são pessoas de certo 'grau de cultura', mas insistem em recorrer ao meio comunicativo para soltar felicitações e dizer apenas boas palavras.
Sem querer bater muito no dia da visita de Aécio Neves, mas, antes mesmo do atraso fenomenal, a mãe da jovem, morta por dengue hemorrágica, tentava desesperadamente falar com a imprensa. Ela se dirigiu também ao secretário de Saúde Marcos Guarino, que a acariciou e tentou acalmá-la, sorrindo, mas a senhora revidou com um chega-pra-lá e gritava - Minha filha morreu de dengue e ninguém fala nada! - Alguém deu ouvidos? Não. Fiquei extremamente incomodo e tudo mais, mas como sabia que meu jornal não publicaria nada a respeito, não valeria nem metade do esforço.
Outra coisa: a linha fatalista criada na cidade. Parece que acidentes e assassinatos vendem jornais. Recentemente aconteceu um seminário definir a legislação de atividades minerárias em Minas Gerais. Some isso com o rompimento da barragem e vazamento de substâncias que contaminaram nosso lindo rio Muriaé e, ainda assim, poucas pessoas se interessaram. Fato parecido com a Reunião Regional dos Conselhos de Assistência Social cuja própria secretária de Desenvolvimento Social Eveline, criticou o desinteresse. Tudo escondido em páginas internas e só foram publicados por que sobrou espaço deixado pelas matérias pagas.
Foi mais fácil ver Bono do que Aécio Neves
Ainda sobre o 'excelentíssimo'...
Qualquer um que tenha presenciado as duas ocasiões sabe que o título não me deixa mentir. No show do U2, em 2006, a organização foi abismal: a caótica compra de ingressos foi marcada por falsas grávidas furando filas e queda de comunicação do site e dos poucos locais de venda. Lembro bem que o meu ingresso, que supostamente chegaria por SEDEX, demorou quase duas semanas – sorte minha ter pedido para o carteiro olhar, displicentemente, sua bolsa para que lá encontrasse a correspondência expressa esquecida. Em 2008, Muriaé, os convites laranjas com erros grotescos de Língua Portuguesa que anunciavam a vinda do governador à cidade chegaram na véspera da visita. O credenciamento da imprensa também foi feito na correria e porcamente – talvez o governador merecesse um pouco mais de segurança, pois qualquer um com uma impressora colorida falsificaria as credenciais sem nem mesmo retratos.
De volta ao show, quando abriram os portões, a Polícia Militar guiava os fãs enlouquecidos através das portas e corredores do gigantesco Morumbi. “Quem for pista vai pela esquerda, arquibancada rampa acima”, me lembro bem deles gritando. Isso que éramos 70 mil pessoas. Na visita do governador, com a chegada da comitiva de autoridades, os poucos policiais militares descansavam à sombra das árvores do camelódromo. A ‘multidão’, boa parte composta por crianças roboticamente ensaiadas para gritar “Aécio, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!”, nem deu trabalho e pouco se expressava. Quando os discursos oficiais começaram, a imprensa se espremeu no cercadinho verde e o restante das pessoas se ‘amuvucaram’ na minúscula frente da rodoviária.
Talvez a experiência de São Paulo em mega-eventos tenha pesado para desviar o transito dias antes do concerto. Em Muriaé, o que já era conturbado demais para a pequena cidade se transformou num caos das 11h da manhã até as 13h. Tanta verba, tanto respeito, mas um chá de cadeira inesquecível sob o sol de uma quarta-feira brilhante. Depois houve o corre-corre no melhor estilo Corrida Maluca, ao som da bandinha montada para o evento, onde qualquer viciado se sentiria em um jogo de vídeo-game ou nas extintas Olimpíadas do Faustão: primeiro, partida após discurso, o próximo objetivo é desfazer o laço na porta, depois a placa, e finalmente correr para a escolta e visitar o hospital de seu aliado político.
Isso tudo por que o evento principal era a inauguração do novo Centro Administrativo. De organizado mesmo, foi a manifestação contra o corte de árvores – os manifestantes se enfileiraram, alternaram, foram pacíficos e se fizeram ver do início ao fim.
No final das contas, foi mais fácil chegar perto do Bono, entre 70 mil pessoas, do que o governador Aécio Neves, entre algumas tantas, na frente de nossa rodoviária.
Visita do governador foi feita no dia errado e quem deveria reclamar, não protestou
O posto do programa MinasFácil foi inaugurado apenas uma semana depois da ‘visita’ do governador Aécio Neves. Na véspera, aconteceu o importante (e por que não dizer ‘implorante’) seminário para discutir a futura legislação mineraria do estado de Minas Gerais. Estava prevista a vinda do secretário da Fazenda de Minas Gerais Simão Cirineu, indicado por Aécio Neves para o cargo e denunciado pela Polícia Federal na Operação Navalha. Ele seria o contato da Gautama, a construtora envolvida no caso de corrupção relacionados à contratação de obras públicas feitas pelo governo federal e que as acusações levaram à queda do ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, com a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) do Ministério da Fazenda para para a liberação de recursos em favor de obras da empreiteira, segundo relatório da Polícia Federal.
Nosso governador só apareceu, no dia seguinte, para o evento – na minha opinião de menor expressão – da inauguração do novíssimo Centro Administrativo e roubou a cena, afinal as manchetes de jornais municipais citavam enfaticamente a visita de Aécio acima dos benefícios que o agrupamento de diversos serviços públicos poderia trazer.
As obras do Centro Administrativo estão próximas aos R$ 5 milhões – custando mais que meu quarteirão inteiro somado ao sítio do meu avô – e trouxeram também a derrubada de árvores ciliares do rio Muriaé, verba para reforma do Ginásio Poliesportivo Rodrigão – usado para JEMG e palanques políticos, e R$ 1 milhão para asfaltar as vias públicas de nossa cidade com baixo índice de permeabilidade. Colocar o calço, mesmo que de blocos, melhoraria bastante e garantiria maior infiltração de água no solo da zona urbana.
Aliás, as únicas manifestações realmente válidas foram dos manifestantes contra o corte de árvores não apenas atrás da rodoviária, mas por toda a cidade. As crianças das escolas estaduais provavelmente foram instruídas a abafar o apitaço, sem muito sucesso. Os políticos fizeram a vista grossa, mas certamente afetou o ego e 'manchou' o período pré-eleitoreiro.
A fotografia foi tirada na tarde da segunda-feira, véspera da visita. Os trabalhadores, convocados de última hora, apressadamente terminam de embelezar nosso feinho terminal rodoviário para recepcionar Aécio e sua comitiva. Quando o poder público quer, ele faz... Pena termos que esperar a visita do nosso governador, que nem mineiro é, para pôr ordem na casa. Ah,sem contar os lugares 'nada a ver' que foram pintados com cal, como os canteiros frente ao Mar Center 'Shopping'.
Propósito do blog Nova Muriaé
Tudo em função da mídia impressa vendida, da política do bate e assopra, de nossa cidade. Aqui, sem dúvidas, é o lugar certo para reclamar de tanta falta de ética e transparência.